Bilinguismo infantil antes e depois da escolinha

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Todo mundo diz: “depois de entrar na escola, eles param de falar português”. Isso porque aquela história de língua minoritária X majoritária se inverte. Ou seja, a criança passa a ser exposta ao inglês – ou japonês, ou alemão ou qualquer que seja a língua local –  num tempo muito maior. E o português, que até então era a língua majoritária, acaba perdendo espaço e se tornando a língua minoritária.

Lembrando que o português é majoritário se o pai e/ou a mãe falarem somente ou pelo menos majoritariamente em português com a criança, e que nem todo pai ou mãe brasileiro usa mais português do que a língua local com os filhos – e tudo bem, essa é uma escolha de cada família.

Aqui em casa, como adotamos o método OPOL (one parent, one language / “um pai, uma língua”), e eu sou a principal cuidadora do Daniel, ele ouve muito mais português do que inglês. Para reforçar o chamado input, que é a informação que ele recebe, seja auditiva ou visual, eu ainda capricho nos livros e músicas brasileiros. Autênticos! Um pouquinho de desenho animado e videoclipes também, apesar de eu evitar ao máximo a televisão.

Primeiros sinais de bilinguismo

Quando estou com ele, só ouço música brasileira, só falo português, só leio em português. E quando o papai chega, continuo firme no português com o filhote mesmo sabendo que o meu marido não nos entende. Pode parecer esquisito, mas funciona e já começamos a colher os primeiros frutos: meu marido ou a minha sogra (ambos americanos, não falantes de português) falam, por exemplo, Daniel, push the button (aperte o botão); can you bring me a book? (você pode me trazer um livro?); put it in the trash (coloque isso no lixo), enfim, frases simples do dia a dia, e ele entende. Quando eu digo essas ou outras frases em português, ele também entende 🙂

Já o vocabulário, por enquanto, é predominantemente brasileiro. A pronúncia ainda não é perfeita, mas ele fala: água, au-au, peixe, bola, carro, caminhão, não, mamãe, papai, vovó, avião, moto, sapato, meia, outro, cocô, xixi…

Em inglês, antes de começar a escolinha, na última semana de agosto deste ano, quando completou 1 ano e 5 meses, ele não falava praticamente nada. Talvez, bola (ball), carro (car) e peixe (fish) porque a pronúncia é tão parecida, que não sabíamos ao certo em que língua ele estava falando. Agora, menos de 3 meses depois, as palavras e até frases em inglês começaram a aparecer: pumpkin, milk, pig, truck, dump truck, apple, trash, it’s trash, bye-bye… Traduzindo: abóbora, leite, porco, caminhão, caminhão basculante (segundo o Google Tradutor), maçã, lixo, isso é lixo, tchau-tchau…

Apoio da escola e do pediatra

Na reunião com a professora – só eu e ela – conversamos sobre isso. Fiquei feliz por ela entender e respeitar a nossa decisão de criá-lo bilíngue. Assim como o nosso pediatra, que até se esforça para falar uma ou outra palavrinha em português com o Daniel. Tivemos sorte, pois nem todos os médicos e educadores acham o bilinguismo uma boa ideia.

Ouvi a mesma história de uma amiga, tempos atrás, e recentemente da mãe de uma aluna: o pediatra as aconselhou parar de usar português em casa porque isso estava “causando atraso na fala” das crianças. Uma pena, pois diversos estudos científicos mostram que esses pediatras estão enganados. O bilinguismo trás uma série de benefícios cognitivos! Depois escrevo sobre eles aqui.

A professora do Daniel comentou que ele tem falado poucas palavras em inglês, mas foi bem enfática ao me dizer que não via sinal de preocupação. Afinal, o vocabulário dele não é pobre como pode parecer, é apenas predominantemente em português. Felizmente ela sabe que é só uma questão de tempo para que ele comece a se expressar mais em inglês também. Vocês viram a listinha que escrevi alguns parágrafos acima, né? E esqueci de contar que ele só vai à escola três vezes por semana e só fica lá de 8:15 ao meio-dia. Imaginem se fosse de segunda à sexta, em período integral?

Obviamente, estou feliz e orgulhosa de ver meu filho, tão novinho, se comunicando em inglês e em português – na escolinha, ainda tem espanhol! Mas também sinto aquele medinho, lá no fundo, dele realmente parar de falar português com o passar do tempo.

Minha jornada apenas começou e já estou sentindo na pele como é difícil criar filhos bilíngues @_@ O que me dá força e esperança é acreditar que estou no caminho certo, graças ao que leio, converso e observo. Sei que teremos de enfrentar algumas tempestades, mas dizem que a gente colhe o que planta e estou focada na minha plantação (^_^)v

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